quarta-feira, 27 de agosto de 2008

Qualidade em Pessoa


O que Fernanda Montenegro e Ivo Pitanguy têm em comum? Não só o fato de serem excelentes profissionais, mas também por saberem conduzir suas trajetórias com integridade, despertando a admiração de todos os que delas compartilham. Mais do que profissionais reconhecidos pelo talento, dedicação e desempenho de alto nível, eles são pessoas de “Qualidade reconhecida" por familiares, colegas, platéias, pacientes, por você, por mim e por quem mais seja consultado.
O nome Fernanda Montenegro apareceu pela primeira vez quando Arlete Pinheiro Monteiro trabalhava no rádio, fazendo traduções e adaptações. Ela ainda não tinha 20 anos de idade, mas, para completar o orçamento, dava aulas de português para estrangeiros no curso aonde aprendia inglês e francês. Na base da inspiração - e principalmente da transpiração - Fernanda se projetou como uma das principais atrizes brasileiras, conferindo maior dignidade ao teatro brasileiro.
A estréia de Fernanda nos palcos foi em 1950. Sem pertencer a uma escola dramática definida, em pouco tempo conquistou respeito nacional, atuando em várias peças ao lado de grandes atores como Sérgio Britto, Cacilda Becker, Nathalia Timberg, Cláudio Correa e Castro e Ítalo Rossi. No começo dos anos 60, Fernanda foi para a televisão, trabalhando em mais de 170 montagens no programa “Grande Teatro Tupi”. Mas, foi somente a partir de 1979, que sua presença se tornou marcante na TV, como atriz preferida dos autores e do público.
Fernanda estreou no cinema em 1964. Mesmo com poucas participações, protagonizou duas das mais notórias produções brasileiras. “Eles Não Usam Black Tie", Leão de Ouro de melhor filme no Festival de Cinema de Veneza, e "Central do Brasil", indicado para o Oscar de melhor película estrangeira.
Mas o teatro sempre foi a prioridade de Fernanda. Ela ganhou vários prêmios de melhor atriz, menções especiais e diversas homenagens ao longo de sua carreira. Seu talento, uma das mais legítimas “unanimidades nacionais", foi cantado na voz de Milton Nascimento, que fez para ela a música "Mulher da Vida".
Apontada por colegas de palco como uma atriz capaz de aliar como ninguém técnica e instinto, Fernanda é reconhecida por sua enorme expressividade. Foi chamada por um crítico de “rosto de borracha", tal sua capacidade de mudar de expressão e se adaptar aos personagens.
A simplicidade, mais um traço de sua personalidade grandiosa, rendeu à Fernanda um convite para a vida política, como ministra da cultura do governo Sarney. Com apoio unânime de toda a classe artística e de opinião pública, ela recusou por considerar que essa não é sua real vocação.

Quem poderia imaginar que aquele menino mineiro, nascido em cinco de julho de 1926, se tornaria o maior cirurgião plástico do mundo? Acreditaria menos ainda nisso, quem o conhecesse aos 14 anos de idade, quando Ivo Hélcio Jardim de Campos Pitanguy, assistindo a uma operação a convite do pai, cirurgião, simplesmente desmaiou. "À medida que fui vendo o sangue, era como se estivesse visualizando uma tela que, de repente, tomou conta de mim".
O desempenho na escola também não daria qualquer pista sobre o futuro do menino como mestre da cirurgia plástica. Pitanguy não era um aluno muito aplicado, dedicando-se exclusivamente a literatura. ''Devorava dezenas de livros. Sempre achei que seria escritor". Seu talento para o esporte se revelaria primeiro. Na juventude, Pitanguy foi atleta da equipe do Minas Tênis Clube, tornando-se campeão nacional de natação e também tenista, participando de todas as categorias do esporte.
Foi somente quando começou a cursar a Escola de Medicina de Belo Horizonte, que Pitanguy sentiu os primeiros raios do sol que iluminaria toda a sua trajetória um pouco mais tarde. O jovem inseguro tornou-se disciplinado e estudioso, com uma insaciável vontade de aprender. O futuro Dr. Ivo se apaixonaria de maneira irreversível pela cirurgia plástica, seguindo para estudar nos Estados Unidos na primeira oportunidade e levando-a muito a sério. "Estudei mais e dormi menos, para me preparar".
Em 1949, de volta ao Rio de Janeiro, Pitanguy começou a se destacar na cirurgia plástica, obtendo rápido reconhecimento. No mesmo ano, foi designado chefe do primeiro Serviço de Queimados do Hospital Pronto-Socorro (hoje Hospital Souza Aguiar), formou o primeiro núcleo de cirurgia reparadora e montou uma equipe de jovens cirurgiões. Em novembro do mesmo ano, assumiu a direção do primeiro serviço de cirurgia reparadora do Hospital Santa Casa da Misericórdia. Mas sua primeira grande ação como cirurgião plástico aconteceu em 1961, após o incêndio do Grande Circo Norte-Americano, em Niterói/RJ, em que mais de duas mil pessoas ficaram feridas. Pitanguy montou uma equipe de emergência para ajudar centenas de queimados, muita em estado gravíssimo. "Esse episódio me marcou muito. Pela oportunidade que tivemos de atender a uma população em desespero, porque reabrimos o Hospital Antônio Pedro, fechado em razão de uma greve de funcionários, e porque pude sentir a importância social da cirurgia plástica". Uma importância que Pitanguy jamais esqueceria. Há 40 anos que ele e sua equipe atendem e operam gratuitamente pessoas carentes que necessitam de cirurgia plástica reparadora na Santa Casa da Misericórdia do Rio de Janeiro. Há mais de 20 anos, a cirurgia de estética gratuita também foi incorporada pelo médico à rotina da Santa Casa.
Aos 83 anos de idade, Pitanguy é um cidadão do mundo. Orgulhoso pelas mais de 60 mil cirurgias que fez - muitas delas em mitos da beleza como Sophia Loren e Gina Lollobrigida - e da formação que deu a médicos de 42 países, Pitanguy sente aquele tipo de realização de quem pôde dedicar-se a vida às próprias paixões e ainda conquistou respeito e reconhecimento mundial com isso. Sua melhor maneira de agradecer talvez esteja no trabalho incansável de transmitir toda sua técnica e experiência a novas gerações de cirurgiões. Ele organiza e ministra diversos cursos de cirurgia plástica no Brasil e lá fora, além de fazer inúmeras demonstrações em encontros, seminários, simpósios e congressos internacionais. A paixão pela literatura também rendeu frutos. Pitanguy ainda encontra tempo para os chás da Academia Brasileira de Letras, da qual é membro ocupando a cadeira de número 22.
Uma bagagem cultural admirável e um prazer intenso de viver cada minuto completam a personalidade desse homem, que não viu fronteiras em suas buscas pela Qualidade. Mesmo para quem não é médico, o Dr. Ivo Pitanguy tem muito a ensinar.

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