segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Índio sabido

Estava o Índio indolentemente sentado a beira do rio, pescando, quando chegou o homem branco. Foi chegando de mansinho, parou a certa distância e se pôs a observar.
Viu o Índio pôr isca no anzol calmamente, depois atirálo na água, olhar sonhadoramente para os círculos que se formavam e desapareciam na corrente e, fincar a vara na margem barrenta do rio, espreguiçarse, recostarse e esperar pacientemente.
Viu o ligeiro movimento da linha, depois mais rápido, mais rápido até atrair a atenção do Índio.
Viu o Índio curvarse para a vara, segurála, observar o vaivém da linha cada vez mais rápido, cada vez mais forte, e de repente, num pânico movimento brusco, felino, viril, sacar das águas um belo peixe de uns dois quilos. E quando viu o Índio comer o peixe, jogar fora a vara para o lado e espicharse na relva, acercou-se:
- Como? Não vai pescar mais?
- Não.
- Por quê?
- Já comi. Agora, descansar.
- Mas você pescou um peixe e tanto num instante ...
- Pesquei.
- Podia pescar outros ...
- Pra quê?
- Podia salgar e guardar para depois ..
- Depois eu pesco.
- Mas podia pescar muito mais ...
- Pra quê?
- Podia salgar e vender os peixes ...
- E o que eu ia fazer com o dinheiro ?
- Comprar mais varas, mais anzóis e pagar uns garotinhos pra pescar.
- Pra quê?
- Poderia pescar muito mais peixes ...
- E que ia fazer com tanto peixe?
- Vender, claro. Ganharia muito dinheiro.
- Pra quê?
- Comprar barcos, molinetes, e pescar lá no meio do rio.
- Pescaria peixes muito maiores, e venderia, e ganharia mais dinheiro, e compraria
mais barcos, redes, arpoes e contrataria mais pescadores e...
- Pra quê?
- Poderia até pescar no mar e pescar muito mais peixes, e camarões, e baleias, e...
- Pra quê?
- Ganharia muito dinheiro. Montaria um frigorífico, uma indústria, ficaria riquíssimo...
- E...
- E então poderia pôr todo mundo trabalhando para você e ficar deitado o resto da vida, descansando, gozando a vida, apreciando a natureza ...
- Bom... isto já estou fazendo agora.
E virouse para o lado e dormiu ...
(Autor desconhecido)

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